quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Ser ou não ser na concepção logosófica Por Carlos Bernardo González Pecotche (Raumsol)


É um propósito comum querer ser algo mais do que se é; mas a maioria anula a si mesmo porque, em vez de ser, aparenta ser. Se é, pois, um ser em aparência. Isto obriga, como é natural, a modificar de forma fictícia a conduta e a atuar artificialmente, mantendo, deste modo, uma situação que não é real. Apela-se assim a muitos recursos, estando a imaginação sempre em movimento; e quantas vezes se vive uma vida agitada, tratando que os demais não descubram que não se é o que se diz ser, isto é, o que se aparenta ser. Prefere-se isto a decidir-se de uma vez por todas a mudar efetivamente. Não obstante, a ninguém está vedado alcançar tudo quanto se propõe, sempre que sua capacidade o permita.

Deve-se, pois, cultivar essa capacidade para poder alcançar tal objetivo. Na medida das próprias forças, na medida da própria evolução, isso poderá ser um fato. Não conseguindo alcançá-lo, ao menos, se alcançará muito mais do que não fazendo nada.

Aqueles que,em geral, aparentam ser mais do que são, conformam-se em manter essa aparência, fazendo às vezes verdadeiros sacrifícios que, logicamente, depois se tornam estéreis.

Não é, acaso, mais razoável e digno viver na realidade e consultar-se intimamente, com limpeza mental, sobre qual é a verdadeira condição de ser?

Não é, acaso, mais razoável e digno viver na realidade?

Insensato, em vez disso, é mentir a si mesmo, insistindo na simulação. Quanto mais valor tem um exame consciente, que permita analisar se no curso da vida se tem feito, em verdade, algo para chegar a ser mais ou ser aquilo que se aspirou!

Mas se daqui passamos ao plano da verdadeira concepção do ser, o assunto muda um tanto. Não entram nele aqueles aspectos que poderiam ensombrecer o alcance de nossa proposição, como seria, por exemplo, se nos referíssemos a essa tendência muito comum que é a ambição.

Não, aqui nos referimos ao ser configurado em todos seus valores próprios, isto é, internos, representados na medida do que sabe e na medida de sua consciência desse saber. Só então o dilema apresentado desde os princípios do mundo aparece claro ante a vista, como um permanente convite para conquistar o verdadeiro ser, que deve incorporar, em quem está vivendo, uma vida destinada a algo muito maior do que estima o conceito comum. Quando isto ocorre, já começam os afãs sadios de superação.

Trechos extraídos do livro Introdução ao Conhecimento Logosófico, págs. 444 e 445

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