Somos, talvez, falantes demais, ativos demais na nossa concepção de vida. Ela também pode consistir em períodos de escuta, de espera. Talvez seja muito importante, na nossa época de violência e inquietação(*), redescobrir a meditação, a oração unitiva, interior, silenciosa, e o silêncio criativo.
O silêncio positivo nos refaz e nos permite perceber quem somos, quem poderíamos ser e a distância entre os dois. Portanto, o silêncio criativo implica uma escolha disciplinada e o que Paul Tillich chamou de “coragem de ser”. Pois quando ficamos cara a cara conosco, no fundo solitário de nosso próprio ser, confrontamo-nos com muitas questões sobre o valor da existência, a realidade de nossos compromissos, a autenticidade de nossa vida cotidiana.
Quando ficamos quietos, não por alguns minutos apenas, mas por uma ou várias horas, podemos nos sentir desconfortavelmente conscientes da presença dentro de nós de um estranho perturbador, o eu que é, ao mesmo tempo, “eu” e mais alguém. O eu que não é inteiramente bem-vindo na sua própria casa porque é tão diferente da personagem cotidiana que construímos a partir de nossas relações com os outros – e de nossa infidelidade a nós mesmos.
Ora, enfrentemos francamente o fato de que nossa cultura está de muitos modos organizada para nos ajudar a fugir de qualquer necessidade de enfrentar esse eu silencioso, interior. Vivemos em estado de constante semi-atenção ao som de vozes, músicas, tráfego, ou ao ruído generalizado à nossa volta o tempo todo. Isso nos mantém imersos num mar de ruídos e de palavras, num ambiente difuso no qual nossa consciência fica meio diluída; não estamos exatamente “pensando”, nem inteiramente reagindo, mas estamos mais ou menos ali. Não estamos plenamente presentes nem inteiramente ausentes; não estamos plenamente recolhidos nem tampouco completamente disponíveis. Não se pode dizer que estamos participando de alguma coisa e podemos, de fato, estar meio conscientes de nossa alienação e indignação. Encontramos, contudo, um certo conforto na vaga sensação de que fazemos “parte de” algo, embora não sejamos muito capazes de definir o que é esse algo – e provavelmente não haveríamos de querer defini-lo, mesmo que pudéssemos. Simplesmente flutuamos no ruído geral. Resignados e indiferentes, participamos subconscientemente do cérebro acéfalo da “realidade”.
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